sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Mudança de Vida: Alguns "Por quês"

13/02/09

Era noite. Aproveitava o inicio do fim de semana pra criar um novo email pro meu futuro anônimo blog. Quando dei por mim estava dura na cadeira. É tão instintivo quanto automático. Isso há muito virara rotina. Desde os primórdios de minha existência convivia com isso. Podia ouvir a discussão. A primeira voz era a dele. Depois a de minha mãe. Não precisei ouvir a voz de minha avó para saber que o tema da discussão era sobre mim. Isso já não era comum. Aliás, fazia pouco tempo que minha participação havia começado a mudar... Mas não me atrevia a relembrar esses fatos, ainda eram dolorosos demais... Só queria me proteger agora...

Dessa vez corri pro esconderijo de meus instrumentos afiados. Não tencionava usá-los, mas tê-los ali pressionados em meus dedos me produzia uma falsa sensação de segurança. O que eu poderia fazer contra um monstro enfurecido que destrói tudo em volta, inclusive grades de alumínio e arromba portas? Sei que ele não ousaria tentar me agredir fisicamente, embora a agressão física fosse rotineira no passado, mas a agressão que realmente machuca fundo é a psicológica.

Podia sentir a tensão no ar. Era por isso que eu vivia em meu quarto com a porta fechada. Para ouvir e ficar exposta o mínimo possível. Mas era inútil. Como sempre, dividida entre querer e não querer ouvir, eu conseguia discernir algumas frases... Já entendia a crise desse instante. Eu acatar a segunda expulsão de casa começava a atormentá-lo. O plano dessa vez é pra fazer com que eu sinta pena e desista de escapar de sua teia venenosa? Que ironia: pisa, humilha as pessoas e depois as culpa por quererem se livrar dele... Cansei de bancar a psicóloga... Cansei de ter pena dos doentes... Cada um vive o que escolhe pra si. Minha mãe e minha avó fizeram a escolha delas. A loucura já começava a me adoecer também. Era o momento de dizer adeus. Já estava tudo acertado. Já tinha até uma vaga em um apartamento próximo à faculdade esperando por mim. O estágio que pegara no final do ano passado era o empurrãozinho que faltava...

Minhas articulações começaram a doer... A discussão, notavelmente do lado externo à porta do meu quarto parecia ter acabado... Apurei os ouvidos pra ter certeza... Mas meu corpo já estava relaxando... Eu sempre sentia a energia no ar antes de compreendê-la.
Mas não estava curiosa pra saber o que acalmara a fera. Minha prioridade era manter distância... A máxima possível. A ida ao banheiro teria de esperar mais um pouco... Estava tão imersa em pensamentos que foi um milagre não ter batido com a cabeça no teto no pulo que dei assustada enquanto meu coração disparava, quando minha mãe entrou no quarto fazendo barulho. Não estava tão relaxada quanto imaginava.


Dia 09/02/09

Já é fato: vou sair de casa. Vou trabalhar não apenas pra aprender, mas também para me sustentar. Além, é claro, dos estudos... Chego a sentir um friozinho na barriga só de imaginar... Apesar da causa ser problemas familiares, não saio por rebeldia.
Hoje fui conhecer o apartamento. Um espaço muito menor do que eu poderia imaginar...
5,4m² são suficientes para meu caos particular? O preço era bom, a companhia prometia ser interessante... Mas havia outros conflitos dentro de mim que eram mais urgentes. Seria forte o suficiente? O sábado na praia sem dúvidas me fortaleceu, mas quanto tempo essa nova força resistiria à agonia em meu peito? Eu sabia que era o certo, sabia que era o melhor pra mim... Sabia o que me aguardava essa hesitação, essa covardia que finjo pra mim mesma não sentir. Por que isso é tão difícil pra mim? Sempre tremi ao pensar em maiores responsabilidades, e agora, em tão pouco tempo mergulhava em meus maiores medos, em todos os desafios que por serem inevitáveis e intensos me atormentavam mesmo em imaginação... Em tão pouco tempo os antecipei de modo irreversível... Sim, irreversíveis. O trabalho, obrigatório a partir do momento em que me aventurei a tomar as rédeas de minha vida... A arriscar de uma só vez minha estável segurança... Sim, foi o que fiz... E ainda as embaralho de tal modo que o monstro de meus pesadelos parece ainda mais assustador... Sou covarde, eu bem sei... Mas ninguém mais sabe de minhas fraquezas.... Isso só dificulta tudo pra mim...Trabalhar, me sustentar, sair de casa, ironicamente até me apaixonar... Perigo demais pra um coração ainda frágil, em recuperação...
Como as coisas chegaram a esse ponto?? O medo de ser mandada embora de um trabalho que me chegou como uma bênção pro meu aprendizado, o medo de não conseguir me bancar, o medo das responsabilidades de morar sozinha e principalmente o medo de amar... Principalmente alguém que pouco conheço... São ameaças de fracasso demais... Perigosíssimo... Mais uma vez chega a hora de respirar fundo e erguer a cabeça... Não posso tropeçar desta vez... Não mesmo... Por mais que o medo me deixe anestesiada, preciso ser forte até me acostumar com essa nova vida...

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Por que sinto como se o amor que sempre senti escondido dentro de mim fosse capaz de me curar? Principalmente agora, desse modo... Por que me agarro tanto a ele, como se fosse uma droga? Não consigo parar de pensar nele... Mesmo não rolando nada entre nós... O que isso significa afinal? Por que sinto tantas coisas ao mesmo tempo? Coisas muito boas e muito ruins... Elas me confundem, me paralisam... É muita tristeza, muito medo, muita esperança, muita alegria, muita realização, muita beleza, muita mágoa, muita insegurança... Como lidar com sentimentos tão conflitantes? Caos. A definição correta. Medo é o sentimento mais forte em mim... Mas a única preocupação que me domina no momento é a incerteza de quando falar com ele novamente, quando vê-lo e principalmente: o que havia por trás daquele semblante de hesitação e confusão?

Confesso: fiquei triste quando me separei dele... Não queria me despedir... Queria ficar mais... A sensação de liberdade é incrível... Nunca havia me sentido assim com ninguém... Menos ainda nessas circunstâncias...

Um comentário:

  1. Esse espaço é libertador, você sentirá isso a cada linda, cada palavra e pensamento que ganham vida.
    Medo é um motivador. O medo é tão motivador, que ele sozinho, faz com que qualquer pessoa saia da inércia, do marasmo, ou mesmo por "medo", fique em movimento. Quando a gente coloca pra fora, tira de dentro do peito o que esta acontecendo, cada pensamento fica mais claro e fácil de ser sentido, pensado.
    Acredito que muitas histórias e estórias têm o medo como principal condutor e o final só depende de nossas escolhas e ações!

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