domingo, 15 de março de 2009


Aconteceram muitas coisas hoje, mas o que sinto no fim deste dia é paz...

É estranho observar o quanto este sentimento tem me tomado ultimamente... Até mesmo em meu colchão, lembro-me bem deste dia... mas nunca como neste momento... em que estava prestes a adormecer pela primeira vez em meu novo lar...

Se o ventilador não estivesse trabalhando contra, meus olhos estariam cheios d`água, mas não de tristeza, e sim de súbita felicidade.

É como se minha alma cintilasse pela primeira vez após tão negros dias...

Então era isso que eu sentia... Passara o dia inteiro tentando entender esse sentimento em vão. Agora estava claro e sentia essa paz como nunca sentira antes, pois nunca fora dormir de fato em paz...

Como poderia ter esse sentimento enquanto as pessoas que mais amava sofriam com aquela dor que havia me dominado de forma tão intensa algumas horas atrás?

Mas eu já não me importava, a felicidade me tomava de modo avassalador, lágrimas jorravam determinadas a se transformar em uma cachoeira.

Eu me deliciava e agradecia compulsivamente por aquele momento...
Sentia uma enorme gratidão pelos amigos e parentes maravilhosos que eu tinha, que me apoiavam incondicionalmente...
A noite com os amigos fora divertida... E eu queria viver, como se tivesse acabado de nascer...

E o milagre acontecera, era como se toda a dor e o ódio que sentira sequer tivessem existido. Sentia a desintoxicação ocorrendo também para mim, era possível, era simples... Sentia o poder da cura me preenchendo... E eu me incomodava em me agarrar a ela, pois ela já fazia parte de mim... Isso se já não estivesse curada...

sábado, 14 de março de 2009

A dor que sentia era insuportável. Nada tinha graça. Quando percebi que o dia estava perdido, lutei. Fiz várias coisas divertidas e interessantes para tentar me distrair, mas ao invés de me animar, só me entristecia ainda mais... Pois percebia quão vão eram meus esforços. Eu sangrava, lentamente... Cada sorriso forçado que dava só aumentava ainda mais minha dor. Não podia mais mentir pra mim mesma impunemente.
Por que? Não parava de me perguntar, certa de que algo me escapava... Uma lágrima solitária se formava lentamente em meus olhos. Então subitamente outras começaram a lhe acompanhar. Transbordava compreensão. Era isso, então. Explicava um “tudo“ que abrangia toda a minha vida.

Era como se no fundo eu soubesse disso. Sempre sentia mais do que compreendia.
Sim, estava perdidamente apaixonada. Descobria também algo muito mais assustador. Estava doente. Mais doente do que poderia imaginar. O maior de meus temores, aquilo pelo qual eu passara toda a minha existência tentando evitar, acontecera. De uma forma que só perceberia quando já fosse tarde demais e o sofrimento, inevitável. Como poderia evitar se esse sentimento nunca tinha desabrochado dentro de mim? Qualquer atitude minha que me levasse a sentir alguma semelhança com minha mãe e sua vida doentia, me causava profunda dor. Uma dor insuportável. Muito mais forte do que eu. Me sentir correndo atrás da pessoa amada, em vão me doeu muito mais do que esperava. Ele conseguira. Estava contaminada com seu poder de destruição. No esforço para me proteger, adoecera às avessas.
Contudo, compreender mudara o que eu sentia. Era estranho, mas era parecido com alívio, resignação e curiosamente; paz. Sim, estava em paz comigo mesma.
Sempre soube que estava marcada. Mas imaginava que fosse uma marca indolor, de negação. Acreditava que ela era apenas uma hesitação, um temor de antecipação.
Me enganara. A ferida era ainda mais profunda.

terça-feira, 3 de março de 2009

...segurando o fôlego...



Viajara sozinha... Queria respirar ares amenos... Me distrair e me divertir um pouco...
Eu não sabia por que não sentia saudades. Achava que era apenas por mágoa, por saber e estar me empenhando em esquecer meu apego à elas. Para não mais sofrer. Por isso mentia sem remorso ao ser indagada em sentir saudades da minha mãe e minha avó. Não sentia nenhuma, e estava feliz em estar tão longe e com pessoas que se importam de verdade comigo.

Neste lugar, repleto de lembranças felizes é onde me sinto em casa, me sinto em paz. Algo que não há mais no local onde moro. Estava ali pra descansar meus nervos, esquecer tudo o que me fizera tão mal e pudesse relaxar minha guarda.

Já começava a me esquecer como era não me manter alerta o tempo todo. Já começava a esquecer minha dor. Não estava curada, é claro que eu não tinha essa ilusão, mas estar ali me permitia pensar no presente com alívio, ao invés de me apegar desesperadamente ao meu futuro longe dali, por mais assustador que fosse.


Mas agora eu sabia o principal motivo. Agora que ela estava de volta, era como se ela nunca tivesse me abandonado. E novamente eu me apegava à semana que vem com mais força do que antes. O caos retornara. E era um caos apocalíptico, eu podia sentir que vivia o instante antes do grande desfecho. Só não sabia se seria feliz ou trágico.

Estava tensa e mais desesperada que antes em me salvar de tudo isso. Mas também estava aborrecida que tantos entes queridos e inocentes estivessem tão envolvidos com aquela dor e revolta que me sufocavam...
Era claro que nunca diria isso, por saber que as magoaria, mas eu esperava que elas não viessem... Parece egoísmo pensar assim, mas não consigo deixar de ligar a presença delas à dor que me consumia por dentro...
Não que eu não estivesse sangrando, mas podia fingir que só restara coisas boas a serem vividas... Esquecer era bom... Era a pura paz de um instante de felicidade e conforto... Era quando eu me sentia em contato comigo mesma, quando só importava viver e esse viver era cheio de esperança e alegria... Coisa que eu sequer me lembrava quando estava em casa... Aliás nem me sentia mais em casa... Não era mais um lugar que pudesse ser chamado de lar... Era um local consumido pela chama do ódio e da loucura... Eu sentia isso no ar, na matéria e nas almas que ali estavam.


O ambiente era uma enorme, fria e perigosa caverna. Uma caverna onde retornamos à idade das trevas, das pedras, onde o ser humano ainda não nasceu. Uma terra onde se vive da forma mais primitiva possível, onde nada é de ninguém e ao mesmo tempo é de todos. Nesse lugar há marcação e disputas por territórios, onde o primitivismo é o caminho para a sobrevivência. É para onde o viajante se desloca com temor e pesar... É fato de que felicidade ainda não conhece este lugar...

A jornada é difícil e cansativa. Força é fundamental. Sanidade não, aliás, quanto menos sanidade, mais forte se é. Ou quem sabe, o mais fraco. Racionalidade não é a palavra de ordem, e sim o estopim de todos os conflitos. Definitivamente, não sentia saudades de casa... Não mesmo...
Mas os habitantes desta caverna estavam na maior guerra já vista... Uma guerra que em que eu fora vencida... Só me restava me retirar, mas não pretendo fazê-lo como membro de um bando primitivo que perdera uma guerra...

Vou me retirar de cabeça erguida, como um soldado que perde uma batalha. Nem que eu tenha que lutar por isso com toda a força e determinação que ainda me restam.

Seguidores