terça-feira, 3 de março de 2009

...segurando o fôlego...



Viajara sozinha... Queria respirar ares amenos... Me distrair e me divertir um pouco...
Eu não sabia por que não sentia saudades. Achava que era apenas por mágoa, por saber e estar me empenhando em esquecer meu apego à elas. Para não mais sofrer. Por isso mentia sem remorso ao ser indagada em sentir saudades da minha mãe e minha avó. Não sentia nenhuma, e estava feliz em estar tão longe e com pessoas que se importam de verdade comigo.

Neste lugar, repleto de lembranças felizes é onde me sinto em casa, me sinto em paz. Algo que não há mais no local onde moro. Estava ali pra descansar meus nervos, esquecer tudo o que me fizera tão mal e pudesse relaxar minha guarda.

Já começava a me esquecer como era não me manter alerta o tempo todo. Já começava a esquecer minha dor. Não estava curada, é claro que eu não tinha essa ilusão, mas estar ali me permitia pensar no presente com alívio, ao invés de me apegar desesperadamente ao meu futuro longe dali, por mais assustador que fosse.


Mas agora eu sabia o principal motivo. Agora que ela estava de volta, era como se ela nunca tivesse me abandonado. E novamente eu me apegava à semana que vem com mais força do que antes. O caos retornara. E era um caos apocalíptico, eu podia sentir que vivia o instante antes do grande desfecho. Só não sabia se seria feliz ou trágico.

Estava tensa e mais desesperada que antes em me salvar de tudo isso. Mas também estava aborrecida que tantos entes queridos e inocentes estivessem tão envolvidos com aquela dor e revolta que me sufocavam...
Era claro que nunca diria isso, por saber que as magoaria, mas eu esperava que elas não viessem... Parece egoísmo pensar assim, mas não consigo deixar de ligar a presença delas à dor que me consumia por dentro...
Não que eu não estivesse sangrando, mas podia fingir que só restara coisas boas a serem vividas... Esquecer era bom... Era a pura paz de um instante de felicidade e conforto... Era quando eu me sentia em contato comigo mesma, quando só importava viver e esse viver era cheio de esperança e alegria... Coisa que eu sequer me lembrava quando estava em casa... Aliás nem me sentia mais em casa... Não era mais um lugar que pudesse ser chamado de lar... Era um local consumido pela chama do ódio e da loucura... Eu sentia isso no ar, na matéria e nas almas que ali estavam.


O ambiente era uma enorme, fria e perigosa caverna. Uma caverna onde retornamos à idade das trevas, das pedras, onde o ser humano ainda não nasceu. Uma terra onde se vive da forma mais primitiva possível, onde nada é de ninguém e ao mesmo tempo é de todos. Nesse lugar há marcação e disputas por territórios, onde o primitivismo é o caminho para a sobrevivência. É para onde o viajante se desloca com temor e pesar... É fato de que felicidade ainda não conhece este lugar...

A jornada é difícil e cansativa. Força é fundamental. Sanidade não, aliás, quanto menos sanidade, mais forte se é. Ou quem sabe, o mais fraco. Racionalidade não é a palavra de ordem, e sim o estopim de todos os conflitos. Definitivamente, não sentia saudades de casa... Não mesmo...
Mas os habitantes desta caverna estavam na maior guerra já vista... Uma guerra que em que eu fora vencida... Só me restava me retirar, mas não pretendo fazê-lo como membro de um bando primitivo que perdera uma guerra...

Vou me retirar de cabeça erguida, como um soldado que perde uma batalha. Nem que eu tenha que lutar por isso com toda a força e determinação que ainda me restam.

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