sábado, 25 de julho de 2009

Vazio


Tenho pensado muito... mas cada pensamento se esvai, sem forças para se manterem em sequência... Sinto que deveria estar lutando, questionando, me permitindo acessar a parte que dói, mas sequer sei onde ela fica...
Cada sinal que tento em vão emitir, se esvai, se desmancha... Não há forças... Cada pergunta tem a consistência mais suave que a brisa no vácuo... que uma gota no deserto...
Sequer sinto dor... na verdade sinto apenas um vazio, um vazio nada pequeno. Como se a perda fosse de uma parte de mim mesma... Por isso a ausência de dor... como poderia doer algo que já nem temos mais?
Já não sinto mais saudade... e a lembrança que fica é de alguma coisa distante, cuja falta já não existe mais... Na verdade nem penso mais... Não existe mais sentimento para isso.
E esse espaço que fica, vago para sempre ficará... espaço impreenchível...
O que me incomoda é não ter percebido nem mesmo sentido o momento que tudo mudou... o momento em que a companhia deixou de ser necessária...
A lágrima que se forma é solitária... e ali permanece, silenciosa.
A sala, um dia talvez ocupada, agora emite um sinal... ecos das interrogações que emito...
Como não ter ouvido o ruído da porta a se fechar? Deveria ter ouvido, não? Deveria ter evitado esse fechamento surdo? Teria eu conseguido evitar?
O que fica pra trás é apenas um lamento inaudível, invisível... cuja sombra é a única prova de sua existência...
Morte... depressão... só consigo associar a elas esse momento, e com relutância, admito... pois esse vazio que sinto é paralisante, e o grito de dor que com certeza estaria sentindo não encontra brecha para sair, para escapar, para me aliviar... ou quem sabe, fazer sentir-me viva...

domingo, 15 de março de 2009


Aconteceram muitas coisas hoje, mas o que sinto no fim deste dia é paz...

É estranho observar o quanto este sentimento tem me tomado ultimamente... Até mesmo em meu colchão, lembro-me bem deste dia... mas nunca como neste momento... em que estava prestes a adormecer pela primeira vez em meu novo lar...

Se o ventilador não estivesse trabalhando contra, meus olhos estariam cheios d`água, mas não de tristeza, e sim de súbita felicidade.

É como se minha alma cintilasse pela primeira vez após tão negros dias...

Então era isso que eu sentia... Passara o dia inteiro tentando entender esse sentimento em vão. Agora estava claro e sentia essa paz como nunca sentira antes, pois nunca fora dormir de fato em paz...

Como poderia ter esse sentimento enquanto as pessoas que mais amava sofriam com aquela dor que havia me dominado de forma tão intensa algumas horas atrás?

Mas eu já não me importava, a felicidade me tomava de modo avassalador, lágrimas jorravam determinadas a se transformar em uma cachoeira.

Eu me deliciava e agradecia compulsivamente por aquele momento...
Sentia uma enorme gratidão pelos amigos e parentes maravilhosos que eu tinha, que me apoiavam incondicionalmente...
A noite com os amigos fora divertida... E eu queria viver, como se tivesse acabado de nascer...

E o milagre acontecera, era como se toda a dor e o ódio que sentira sequer tivessem existido. Sentia a desintoxicação ocorrendo também para mim, era possível, era simples... Sentia o poder da cura me preenchendo... E eu me incomodava em me agarrar a ela, pois ela já fazia parte de mim... Isso se já não estivesse curada...

sábado, 14 de março de 2009

A dor que sentia era insuportável. Nada tinha graça. Quando percebi que o dia estava perdido, lutei. Fiz várias coisas divertidas e interessantes para tentar me distrair, mas ao invés de me animar, só me entristecia ainda mais... Pois percebia quão vão eram meus esforços. Eu sangrava, lentamente... Cada sorriso forçado que dava só aumentava ainda mais minha dor. Não podia mais mentir pra mim mesma impunemente.
Por que? Não parava de me perguntar, certa de que algo me escapava... Uma lágrima solitária se formava lentamente em meus olhos. Então subitamente outras começaram a lhe acompanhar. Transbordava compreensão. Era isso, então. Explicava um “tudo“ que abrangia toda a minha vida.

Era como se no fundo eu soubesse disso. Sempre sentia mais do que compreendia.
Sim, estava perdidamente apaixonada. Descobria também algo muito mais assustador. Estava doente. Mais doente do que poderia imaginar. O maior de meus temores, aquilo pelo qual eu passara toda a minha existência tentando evitar, acontecera. De uma forma que só perceberia quando já fosse tarde demais e o sofrimento, inevitável. Como poderia evitar se esse sentimento nunca tinha desabrochado dentro de mim? Qualquer atitude minha que me levasse a sentir alguma semelhança com minha mãe e sua vida doentia, me causava profunda dor. Uma dor insuportável. Muito mais forte do que eu. Me sentir correndo atrás da pessoa amada, em vão me doeu muito mais do que esperava. Ele conseguira. Estava contaminada com seu poder de destruição. No esforço para me proteger, adoecera às avessas.
Contudo, compreender mudara o que eu sentia. Era estranho, mas era parecido com alívio, resignação e curiosamente; paz. Sim, estava em paz comigo mesma.
Sempre soube que estava marcada. Mas imaginava que fosse uma marca indolor, de negação. Acreditava que ela era apenas uma hesitação, um temor de antecipação.
Me enganara. A ferida era ainda mais profunda.

terça-feira, 3 de março de 2009

...segurando o fôlego...



Viajara sozinha... Queria respirar ares amenos... Me distrair e me divertir um pouco...
Eu não sabia por que não sentia saudades. Achava que era apenas por mágoa, por saber e estar me empenhando em esquecer meu apego à elas. Para não mais sofrer. Por isso mentia sem remorso ao ser indagada em sentir saudades da minha mãe e minha avó. Não sentia nenhuma, e estava feliz em estar tão longe e com pessoas que se importam de verdade comigo.

Neste lugar, repleto de lembranças felizes é onde me sinto em casa, me sinto em paz. Algo que não há mais no local onde moro. Estava ali pra descansar meus nervos, esquecer tudo o que me fizera tão mal e pudesse relaxar minha guarda.

Já começava a me esquecer como era não me manter alerta o tempo todo. Já começava a esquecer minha dor. Não estava curada, é claro que eu não tinha essa ilusão, mas estar ali me permitia pensar no presente com alívio, ao invés de me apegar desesperadamente ao meu futuro longe dali, por mais assustador que fosse.


Mas agora eu sabia o principal motivo. Agora que ela estava de volta, era como se ela nunca tivesse me abandonado. E novamente eu me apegava à semana que vem com mais força do que antes. O caos retornara. E era um caos apocalíptico, eu podia sentir que vivia o instante antes do grande desfecho. Só não sabia se seria feliz ou trágico.

Estava tensa e mais desesperada que antes em me salvar de tudo isso. Mas também estava aborrecida que tantos entes queridos e inocentes estivessem tão envolvidos com aquela dor e revolta que me sufocavam...
Era claro que nunca diria isso, por saber que as magoaria, mas eu esperava que elas não viessem... Parece egoísmo pensar assim, mas não consigo deixar de ligar a presença delas à dor que me consumia por dentro...
Não que eu não estivesse sangrando, mas podia fingir que só restara coisas boas a serem vividas... Esquecer era bom... Era a pura paz de um instante de felicidade e conforto... Era quando eu me sentia em contato comigo mesma, quando só importava viver e esse viver era cheio de esperança e alegria... Coisa que eu sequer me lembrava quando estava em casa... Aliás nem me sentia mais em casa... Não era mais um lugar que pudesse ser chamado de lar... Era um local consumido pela chama do ódio e da loucura... Eu sentia isso no ar, na matéria e nas almas que ali estavam.


O ambiente era uma enorme, fria e perigosa caverna. Uma caverna onde retornamos à idade das trevas, das pedras, onde o ser humano ainda não nasceu. Uma terra onde se vive da forma mais primitiva possível, onde nada é de ninguém e ao mesmo tempo é de todos. Nesse lugar há marcação e disputas por territórios, onde o primitivismo é o caminho para a sobrevivência. É para onde o viajante se desloca com temor e pesar... É fato de que felicidade ainda não conhece este lugar...

A jornada é difícil e cansativa. Força é fundamental. Sanidade não, aliás, quanto menos sanidade, mais forte se é. Ou quem sabe, o mais fraco. Racionalidade não é a palavra de ordem, e sim o estopim de todos os conflitos. Definitivamente, não sentia saudades de casa... Não mesmo...
Mas os habitantes desta caverna estavam na maior guerra já vista... Uma guerra que em que eu fora vencida... Só me restava me retirar, mas não pretendo fazê-lo como membro de um bando primitivo que perdera uma guerra...

Vou me retirar de cabeça erguida, como um soldado que perde uma batalha. Nem que eu tenha que lutar por isso com toda a força e determinação que ainda me restam.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Respirar




Sinto o movimento...
O som da mudança, da transformação...
Sinto medo, mas também sinto força...
Como uma luz que se acende...
Uma luz que aquece... Que me preenche...
Sinto esperança... E um grande alívio...
Como um cego cuja primeira visão é a do pôr-do-sol.
Como um surdo que descobre o som...
O burburinho das águas contra as pedras de uma cachoeira...
Como se pudesse respirar pela primeira vez, após anos submersa...
Sinto a brisa me acariciar... me preenchendo de vida.
E eu respiro...
Minha alma respira...
Como em sua primeira pausa em meio à um furacão.
Olho para o mar, para os pássaros a voar...
Sentindo a natureza me curando...
Desejo também poder voar,
Sem medos, sem compromissos...
Desejo me libertar
Estou prestes a me libertar
De toda a dor que me envolvia,
Que me contaminava...
Isto é o que sinto...
Me sinto prestes a me levantar...

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Mudança de Vida: Alguns "Por quês"

13/02/09

Era noite. Aproveitava o inicio do fim de semana pra criar um novo email pro meu futuro anônimo blog. Quando dei por mim estava dura na cadeira. É tão instintivo quanto automático. Isso há muito virara rotina. Desde os primórdios de minha existência convivia com isso. Podia ouvir a discussão. A primeira voz era a dele. Depois a de minha mãe. Não precisei ouvir a voz de minha avó para saber que o tema da discussão era sobre mim. Isso já não era comum. Aliás, fazia pouco tempo que minha participação havia começado a mudar... Mas não me atrevia a relembrar esses fatos, ainda eram dolorosos demais... Só queria me proteger agora...

Dessa vez corri pro esconderijo de meus instrumentos afiados. Não tencionava usá-los, mas tê-los ali pressionados em meus dedos me produzia uma falsa sensação de segurança. O que eu poderia fazer contra um monstro enfurecido que destrói tudo em volta, inclusive grades de alumínio e arromba portas? Sei que ele não ousaria tentar me agredir fisicamente, embora a agressão física fosse rotineira no passado, mas a agressão que realmente machuca fundo é a psicológica.

Podia sentir a tensão no ar. Era por isso que eu vivia em meu quarto com a porta fechada. Para ouvir e ficar exposta o mínimo possível. Mas era inútil. Como sempre, dividida entre querer e não querer ouvir, eu conseguia discernir algumas frases... Já entendia a crise desse instante. Eu acatar a segunda expulsão de casa começava a atormentá-lo. O plano dessa vez é pra fazer com que eu sinta pena e desista de escapar de sua teia venenosa? Que ironia: pisa, humilha as pessoas e depois as culpa por quererem se livrar dele... Cansei de bancar a psicóloga... Cansei de ter pena dos doentes... Cada um vive o que escolhe pra si. Minha mãe e minha avó fizeram a escolha delas. A loucura já começava a me adoecer também. Era o momento de dizer adeus. Já estava tudo acertado. Já tinha até uma vaga em um apartamento próximo à faculdade esperando por mim. O estágio que pegara no final do ano passado era o empurrãozinho que faltava...

Minhas articulações começaram a doer... A discussão, notavelmente do lado externo à porta do meu quarto parecia ter acabado... Apurei os ouvidos pra ter certeza... Mas meu corpo já estava relaxando... Eu sempre sentia a energia no ar antes de compreendê-la.
Mas não estava curiosa pra saber o que acalmara a fera. Minha prioridade era manter distância... A máxima possível. A ida ao banheiro teria de esperar mais um pouco... Estava tão imersa em pensamentos que foi um milagre não ter batido com a cabeça no teto no pulo que dei assustada enquanto meu coração disparava, quando minha mãe entrou no quarto fazendo barulho. Não estava tão relaxada quanto imaginava.


Dia 09/02/09

Já é fato: vou sair de casa. Vou trabalhar não apenas pra aprender, mas também para me sustentar. Além, é claro, dos estudos... Chego a sentir um friozinho na barriga só de imaginar... Apesar da causa ser problemas familiares, não saio por rebeldia.
Hoje fui conhecer o apartamento. Um espaço muito menor do que eu poderia imaginar...
5,4m² são suficientes para meu caos particular? O preço era bom, a companhia prometia ser interessante... Mas havia outros conflitos dentro de mim que eram mais urgentes. Seria forte o suficiente? O sábado na praia sem dúvidas me fortaleceu, mas quanto tempo essa nova força resistiria à agonia em meu peito? Eu sabia que era o certo, sabia que era o melhor pra mim... Sabia o que me aguardava essa hesitação, essa covardia que finjo pra mim mesma não sentir. Por que isso é tão difícil pra mim? Sempre tremi ao pensar em maiores responsabilidades, e agora, em tão pouco tempo mergulhava em meus maiores medos, em todos os desafios que por serem inevitáveis e intensos me atormentavam mesmo em imaginação... Em tão pouco tempo os antecipei de modo irreversível... Sim, irreversíveis. O trabalho, obrigatório a partir do momento em que me aventurei a tomar as rédeas de minha vida... A arriscar de uma só vez minha estável segurança... Sim, foi o que fiz... E ainda as embaralho de tal modo que o monstro de meus pesadelos parece ainda mais assustador... Sou covarde, eu bem sei... Mas ninguém mais sabe de minhas fraquezas.... Isso só dificulta tudo pra mim...Trabalhar, me sustentar, sair de casa, ironicamente até me apaixonar... Perigo demais pra um coração ainda frágil, em recuperação...
Como as coisas chegaram a esse ponto?? O medo de ser mandada embora de um trabalho que me chegou como uma bênção pro meu aprendizado, o medo de não conseguir me bancar, o medo das responsabilidades de morar sozinha e principalmente o medo de amar... Principalmente alguém que pouco conheço... São ameaças de fracasso demais... Perigosíssimo... Mais uma vez chega a hora de respirar fundo e erguer a cabeça... Não posso tropeçar desta vez... Não mesmo... Por mais que o medo me deixe anestesiada, preciso ser forte até me acostumar com essa nova vida...

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Por que sinto como se o amor que sempre senti escondido dentro de mim fosse capaz de me curar? Principalmente agora, desse modo... Por que me agarro tanto a ele, como se fosse uma droga? Não consigo parar de pensar nele... Mesmo não rolando nada entre nós... O que isso significa afinal? Por que sinto tantas coisas ao mesmo tempo? Coisas muito boas e muito ruins... Elas me confundem, me paralisam... É muita tristeza, muito medo, muita esperança, muita alegria, muita realização, muita beleza, muita mágoa, muita insegurança... Como lidar com sentimentos tão conflitantes? Caos. A definição correta. Medo é o sentimento mais forte em mim... Mas a única preocupação que me domina no momento é a incerteza de quando falar com ele novamente, quando vê-lo e principalmente: o que havia por trás daquele semblante de hesitação e confusão?

Confesso: fiquei triste quando me separei dele... Não queria me despedir... Queria ficar mais... A sensação de liberdade é incrível... Nunca havia me sentido assim com ninguém... Menos ainda nessas circunstâncias...

Preparando o lápis: Uma Breve Apresentação



A criação deste blog é um desejo que sempre tive em compartilhar pensamentos que até então ficavam presos aos meus diários. Não irei, portanto, me identificar. Não citarei nomes, lugares... o que importa são as impressões expostas, e não a identidade dos envolvidos.

Aqui farei meus desabafos, contarei meus dramas, e exclusivamente, meus pensamentos.

Espero que vocês aprendam tanto com elas quanto eu aprendi ao vivê-las.Também aceito o relato de vocês, caso se identifiquem com algum tema abordado.

Sejam bem vindos!

Atenciosamente,

Reflexões Anônimas

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